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The shadowed branches, the glimpse of light, the long, dark eternal night and months of shadowed gloom, Poppies dance and soft winds prance ruffling the tips of grass into rivers of gold meandering…

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Pequeno monstro

A primeira vez que li “A hora da estrela”, obra de Clarice Lispector, eu tinha dezesseis anos. Era aula de português, professora Solange – que depois eu viria a odiar -, entregou um exemplar a cada aluno como leitura obrigatória. A tarefa era ler o livro e, em seguida, elaborar uma análise sobre o significado da hora da estrela de Macabéa.

Eu já havia me encontrado com Clarice em “Perto do coração selvagem” enquanto estava sendo babá de uma criança. Achei o nome curioso, profundo, intenso e resolvi sentar em uma dessas poltronas em que pessoas amamentam até sentir em cada linha um pequeno-monstro sugar todas as minhas energias. Tive medo de Clarice. Tive medo da barata. E o balançar insistente daquele móvel me causou uma ânsia repentina – ou era digerir Clarice? Não sei.

Mas dessa vez não era uma escolha consciente. E a necessidade te capacita com uma coragem absurda: acordava pensando no momento que leria Clarice. Mastigava lembrando de Macabéa com seu café extremamente adocicado. Suas aspirinas. Suas inocências. E meu rosto agora era redondo como o dela ao ponto de não saber quem era eu e quem era ela. E se antes dela eu realmente tinha uma personalidade. Ou, se assim como ela, vivia de migalhas dos outros: Clarice havia me capturado.

Na sala de aula o comentário se repetia: “Não consigo entender o que ela escreve”. Enquanto eu achava uma ousadia entender Clarice – agora mais do que nunca – nada é tão simples quanto parece. Porém apenas um comentário me marcou perdidamente ao ponto de escrever esse texto. Era de um menino chamado Ewerton que tinha cabelos ondulados, pingando gel, e passava maisena nas bochechas para disfarçar suas espinhas , o que ficava mais evidente, ele disse: “Essa mulher não diz logo o que quer dizer.”

Ouvir isso foi me aproximar de Clarice, pois ouvia da minha mãe a mesma frase de diferentes formas: pare de enrolar e diz logo o que quer. Suspiro. Volto para mim. Me identificar com Clarice sempre foi um misto de espanto com dor. Só hoje entendo que me via em sua infelicidade já ao dezesseis, mas, assim como Macabéa, eu não sabia que era infeliz.

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